E pôs-se a falar-me no pálido e magro rapaz que os pais tinham matriculado havia mais de quinze anos no curso inferior do colégio militar de Sainkt-Polten para fazerem dêle um oficial. Horacek, naquela altura capelão dêsse estabelecimento, lembrava-se bem do ex-aluno. Descreveu-mo como um jovem calado, prendado e sério que gostava de apartar-se dos outros e suportava com paciência o constrangimento da vida do internato. Depois do quarto ano, passou com os colegas para o curso superior, que funcionava em Märisch-Weiszkirchen. Ali ficou evidenciado, naturalmente, faltar-lhe a necessária resistência física. Por êsse motivo, os pais retiraram-no do colégio, fazendo-o estudar perto dêles, em Praga. Acêrca do rumo da vida exterior do poeta, depois disso, Horacek nada mais soube informar-me.
Compreender-se-á fàcilmente que na mesma hora resolvesse endereçar a Rainer Maria Rilke minhas tentativas poéticas pedindo-lhe um julgamento. Com menos de vinte anos, no limiar de uma carreira que me parecia exatamente oposta aos meus pendores, esperava encontrar compreensão, caso devesse encontrá-la em alguma parte, no poeta de Mir zu Feier. E sem que eu o quisesse, vim a fazer uma carta para acompanhar meus poemas e na qual me manifestei com tão pouca reserva como nunca antes ou depois a qualquer outro homem.
Passaram muitas semanas antes que a resposta chegasse. A carta, lacrada de azul, ostentava o carimbo de Paris, era pesada e exibia no envelope os mesmo traços claros, belos e seguros em que estava vazado o próprio texto, da primeira à última linha. Foi assim que começou a minha correspondência regular com Rainer Maria Rilke. Ela durou até 1908 e foi-se espaçando aos poucos, por me ter a vida empurrado para regiões de onde a calorosa, terna e comovente solicitude do poeta me quisera precisamente afastar.
Mas isto pouco importa. Importam apenas as dez cartas que se seguem, para conhecimento do mundo em que vivia e agia Rainer Maria Rilke. Elas têm a sua importância para muitos adolescentes de hoje e de amanhã. Quando fala um dos grandes que só uma vez aparecem, os pequenos devem calar-se.
Berlim, junho de 1929.
Franz Xaver Kappus.
Compreender-se-á fàcilmente que na mesma hora resolvesse endereçar a Rainer Maria Rilke minhas tentativas poéticas pedindo-lhe um julgamento. Com menos de vinte anos, no limiar de uma carreira que me parecia exatamente oposta aos meus pendores, esperava encontrar compreensão, caso devesse encontrá-la em alguma parte, no poeta de Mir zu Feier. E sem que eu o quisesse, vim a fazer uma carta para acompanhar meus poemas e na qual me manifestei com tão pouca reserva como nunca antes ou depois a qualquer outro homem.
Passaram muitas semanas antes que a resposta chegasse. A carta, lacrada de azul, ostentava o carimbo de Paris, era pesada e exibia no envelope os mesmo traços claros, belos e seguros em que estava vazado o próprio texto, da primeira à última linha. Foi assim que começou a minha correspondência regular com Rainer Maria Rilke. Ela durou até 1908 e foi-se espaçando aos poucos, por me ter a vida empurrado para regiões de onde a calorosa, terna e comovente solicitude do poeta me quisera precisamente afastar.
Mas isto pouco importa. Importam apenas as dez cartas que se seguem, para conhecimento do mundo em que vivia e agia Rainer Maria Rilke. Elas têm a sua importância para muitos adolescentes de hoje e de amanhã. Quando fala um dos grandes que só uma vez aparecem, os pequenos devem calar-se.
Berlim, junho de 1929.
Franz Xaver Kappus.
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