quinta-feira, 23 de setembro de 2010

Cartas A Um Jovem Poeta - Segunda Carta

Viareggio perto de Pisa (Itália),
5 de Abril de 1903

   Perdoe-me, caro e prezado senhor, o lembrar-me só agora, com gratidão, de sua carta de 24 de fevereiro: estive todo êste tempo indisposto, embora não doente, mas opresso por uma fraqueza parecida com influenza, e que me tornou incapaz de fazer qualquer coisa. Finalmente, não vendo melhoras, vim para as margens dêste mar do sul cuja caridade já me valeu uma vez. Mas ainda não estou bom; custa-me escrever e assim o senhor deve tomar estas poucas linhas como se fôssem muitas mais.
   Deve naturalmente saber que tôda carta sua me alegrará. Mostre-se, porém, indulgente com as respostas, que talvez o deixem mais de uma vez com as mãos vazias. Com efeito, em última análise, é precisamente nas coisas mais profundas e importantes que estamos indizìvelmente sós, e para que um possa aconselhar ou mesmo ajudar o outro, muito deve acontecer; muitos sucessos favoráveis devem ocorrer; tôda uma constelação de eventos se deve reunir para que uma única vez se alcance um resultado feliz.
   Quero falar-lhe hoje apenas de duas coisas. Primeiro, da ironia.
   Não se deixe dominar por ela, sobretudo em momentos estéreis. Nos momentos criadores procure servir-se dela, como de mais um meio para agarrar a vida. Utilizada com pureza, ela também é pura e não nos deve envergonhar. Ao verificar, porém, que se familiariza demais com ela, temendo uma intimidade excessiva, volte-se para objetos grandes e graves, diante dos quais ela se encolhe desajeitada. Busque o âmago das coisas, aonde a ironia nunca desce; e ao sentir-se destarte como que à beira do grandioso, examine ao mesmo tempo se essa concepção das coisas deriva de uma necessidade de seu ser. Sob a influência das coisas graves, como efeito, a ironia ou o abandonará por si mesmo (se tiver sido algo de ocasional)  ou então se reforçará (caso lhe pertença como coisa inata) num instrumentos sério, enquadrando-se no conjuntos dos meios com o que o senhor deverá moldar a sua arte.
   A segunda coisas que lhe queria dizer hoje é a seguinte:
   De todos os meus livros só alguns me são indispensáveis, mas há dois que se encontram entre meus objetos de uso por onde quer que ande. Tenho-os comigo aqui também: a Bíblia e os livros do grande poeta dinamarquês Jens Peter Jacobsen. Pergunto-me se os conhece. Pode fàcilmente adquiri-los, sendo que parte dêles foi publicada na coleção Reklam em ótima tradução. Adquira o volumezinho Seis novelas de Jens Peter Jacobsen e seu romance Niels Lyhne e comece pela primeira novela do primeiro volume intitulada Mogens. Um mundo se abrirá aos seus olhos: a felicidade, a riqueza, a inconcebível grandea de um mundo. Viva nesses livros um momentos, aprenda nêles o que lhe parecer digno de ser aprendido, mas, antes de tudo, ame-os. Êste amor ser-lhe-á retribuído milhares de vêzes e, como quer que se torne a sua vida vida, êle passará a fazer parte, estou certo, do tecido de seu ser, como uma das fibras mais importantes, no meio das suas experiências, desilusões e alegrias.
   Se eu tivesse de confessar com quem aprendi alguma coisa acêrca da essência do processo criador, sua pronfundidade e eternidade, só poderia indicar dois nomes: o de Jacobsen, êste poeta máximo, e o de Auguste Rodin, o escultor que não tem igual entre todos os artistas de nossos dias.
   Que tudo lhe suceda bem em seus caminhos.
                                                                         Seu
                                                                  Rainer Maria Rilke

sábado, 11 de setembro de 2010

Cartas A Um Jovem Poeta - Primeira Carta

     Paris, 17 fevereiro de 1903.

Prezadíssimo Senhor,

   Sua carta alcançou-me apenas há poucos dias. Quero agradecer-lhe a grande e amável confiança. Pouco mais posso fazer. Não posso entrar em considerações acêrca da feição de seus versos, pois sou alheio a tôda e qualquer intenção crítica, que sempre resultam em mal-entendidos mais ou menos felizes. As coisas estão longe de ser tôdas tão tangíveis e dizíveis quanto se nos pretenderia fazer crer; a maior parte dos acontecimentos é inexprimível e ocorre num espaço em que nenhuma palavra nunca pisou. Menos suscetíveis de expressão do que qualquer outra coisa são as obras de arte, - sêres misteriosos cuja vida perdura, ao lado da nossa, efêmera.
   Depois de feito êste reparo, dir-lhe-ei ainda que seus versos não possuem feição própria, somente acenos discretos e velados de personalidade. É o que sinto com a maior clareza no último poema  Minha alma. Aí, algo de peculiar procura expressão e forma. No belo poema  A Leopardi  talvez uma espécie de parentesco com êsse grande solitário esteja apontando. No entanto, as poesias nada têm ainda de próprio e de independente, nem mesmo a última, nem mesmo a dirigida a Leopardi. Sua amável carta que as acompanha não deixou de me explicar certa insuficiência que senti ao ler seus versos sem que a pudesse definir explicitamente. Pergunta se os seus versos são bons. Pergunta-o a mim, depois de o ter perguntado a outras pessoas. Manda-os a periódicos, compara-os com outras poesias e inquieta-se quando suas tentativas são recusadas por um ou outro redator. Pois bem - usando da licença que me deu de aconselhá-lo - peço-lhe que deixei tudo isso. O senhor está olhando para fora, e é justamente o que menos deveria fazer neste momento. Ninguém o pode aconselhar ou ajudar, - ninguém. Não há senão um caminho. Procure entrar em si mesmo. Investigue o motivo que o manda escrever; examine se estende suas raízes pelos recantos mais profundos de sua alma; confesse a si mesmo: morreria, se lhe fôsse vedado escrever? Isto acima de tudo: pergunte a si mesmo na hora mais tranqüila de sua noite: "Sou mesmo forçado a escrever ?" Escave dentro de si uma resposta profunda. Se fôr afirmativa, se puder contestar àquela pergunta severa por um forte e simples "sou", então construa a sua vida de acôrdo com esta necessidade. Sua vida, até em sua hora mais indiferente e anódina, deverá tornar-se o sinal e o testemunho de tal pressão. Aproxime-se então da natureza. Depois procure, como se fôsse o primeiro homem, dizer o que vê, vive, ama e perde. Não escreva poesias de amor. Evite de início as formas usuais e demasiado comuns: são essas as mais difíceis, pois precisa-se de uma fôrça grande e amadurecida para se produzir algo de pessoal num domínio em que sobram tradições boas, algumas brilhantes. Eis por que deve fugir dos motivos gerais para aquêles que a sua própria existência cotidiana  lhe oferece; relate suas mágoas e seus desejos, seus pensamentos passageiros, sua fé em qualquer beleza - relate tudo isto com íntima e humilde sinceridade. Utilize, para se exprimir, sonhos e os objetos de suas lembranças. Se a própria existência cotidiana lhe parecer pobre, não a acuse. Acuse a si mesmo, diga consigo que não é bastante poeta para extrair as suas riquezas. Para o criador, com efeito, não há pobreza nem lugar mesquinho e indiferente. Mesmo que se encontrasse numa prisão, cujas paredes impedissem todos os ruídos do mundo de chegar aos seus ouvidos, não lhe ficaria sempre sua infância, essa esplêndida e régia riqueza, êsse tesouro de recordações? Volte a atenção para ela. Procure soerguer as sensações submersas dêsse longínquo passado: sua personalidade há de reforçar-se, sua solidão há de alargar-se e transformar-se numa habitação entre lusco e fusco diante da qual o ruído dos outros passa longe, sem nela penetrar. Se depois desta volta para dentro, dêste ensimesmar-se, brotarem versos, não mais pensará em perguntar seja a quem fôr se são bons. Nem tão pouco tentará interessar as revistas por êsses trabalhos, pois há de ver nêles sua querida propriedade natural, um pedaço e uma voz de sua vida. Uma obra de arte é boa quando nasceu por necessidade. Neste caráter de origem está o seu critério - o único existente. Também, meu prezado senhor, não lhe posso dar outro conselhos fora dêste: entrar em si e examinar as profundidades de onde jorra a sua vida; na fonte desta é que encontrará a resposta à questão de saber se deve criar. Aceite-a tal como se lhe apresentar à primeira vista sem procurar interpretá-la. Talvez venha a significar que o senhor é chamado a ser um artista. Nesse caso aceite o destino e carregue-o com seu pêso e sua grandeza, sem nunca se preocupar com recompensa que possa vir de fora. O criador, com efeito, deve ser um mundo para si mesmo e encontrar tudo em si e nessa natureza a que se aliou.
   Mas talvez se dê o caso de, após essa descida em si mesmo e em seu âmago solitário, ter o senhor de renunciar a se tornar poeta. (Basta, como já disse, sentir que se poderia viver sem escrever para não mais se ter o direito de fazê-lo). Mesmo assim, o exame de consciência que lhe peço não terá sido inútil. Sua vida, a partir dêsse momento, há de encontrar caminhos próprios. Que sejam bons, ricos e largos é o que lhe desejo, muito mais que lhe posso exprimir.
têrmo de sua evolução. Nada a poderia perturbar mais do que olhar para fora e aguardar de fora respostas a perguntas a que talvez sòmente seu sentimento mais íntimo possa responder na hora mais silenciosa.
   Foi com alegria que encontrei em sua carta o nome do professor Horacek; guardo por êsse amável sábio uma grande estima e uma gratidão que desafia os anos. Fale-lhe, por favor, neste meu sentimento. É bondade dêle lembrar-se ainda de mim; e eu sei apreciá-la.
   Restituo-lhe ao mesmo tempo os versos que me veio confiar amigàvelmente. Agradeço-lhe mais uma vez a grandeza e a cordialidade de sua confiança. Procurei por meio desta resposta sincera, feita o melhor que pude, tornar-me um pouco mais digno dela do que realmente sou, em minha qualidade de estranho.
   Com todo devotamento e tôda a simpatia,
                                                                    Rainer Maria Rilke

Cartas A Um Jovem Poeta - Parte III - Introdução

   Era pelo fim do outono de 1902. Sentado sob os antiqüíssimos castanheiros do parque da academia militar de Wiener-Neustadt  eu lia um livro. Tão absorto estava pela leitura que mal percebi quando o único civil dos nossos professôres, o erudito e bom capelão Horacek, se pôs ao meu lado. Tomou-me o volume das mãos, examinou-lhe a capa e sacudiu a cabeça. "Poesias de Rainer Maria Rilke?" - perguntou pensativo. Folheou o livro, percorreu alguns versos e depois deixou vaguear os olhos ao longe para finalmente dizer-me acenando com a cabeça. "Então o aluno René Rilke tornou-se mesmo poeta?"
   E pôs-se a falar-me no pálido e magro rapaz que os pais tinham matriculado havia mais de quinze anos no curso inferior do colégio militar de Sainkt-Polten para fazerem dêle um oficial. Horacek, naquela altura capelão dêsse estabelecimento, lembrava-se bem do ex-aluno. Descreveu-mo como um jovem calado, prendado e sério que gostava de apartar-se  dos outros e suportava com paciência o constrangimento da vida do internato. Depois do quarto ano, passou com os colegas para o curso superior, que funcionava em Märisch-Weiszkirchen. Ali ficou evidenciado, naturalmente, faltar-lhe a necessária  resistência física. Por êsse motivo, os pais retiraram-no do colégio, fazendo-o estudar perto dêles, em Praga. Acêrca do rumo da vida exterior do poeta, depois disso, Horacek nada mais soube informar-me.
   Compreender-se-á fàcilmente que na mesma hora resolvesse endereçar a Rainer Maria Rilke minhas tentativas poéticas pedindo-lhe um julgamento. Com menos de vinte anos, no limiar de uma carreira que me parecia exatamente oposta aos meus pendores, esperava encontrar compreensão, caso devesse encontrá-la em alguma parte, no poeta de
Mir zu Feier. E sem que eu o quisesse, vim a fazer uma carta para acompanhar meus poemas e na qual me manifestei com tão pouca reserva como nunca antes ou depois a qualquer outro homem.
   Passaram muitas semanas antes que a resposta chegasse. A carta, lacrada de azul, ostentava o carimbo de Paris, era pesada e exibia no envelope os mesmo traços claros, belos e seguros em que estava vazado o próprio texto, da primeira à última linha. Foi assim que começou a minha correspondência regular com Rainer Maria Rilke. Ela durou até 1908 e foi-se espaçando aos poucos, por me ter a vida empurrado para regiões de onde a calorosa, terna e comovente solicitude do poeta me quisera precisamente afastar.
   Mas isto pouco importa. Importam apenas as dez cartas que se seguem, para conhecimento do mundo em que vivia e agia Rainer Maria Rilke. Elas têm a sua importância para muitos adolescentes de hoje e de amanhã. Quando fala um dos grandes que só uma vez aparecem, os pequenos devem calar-se.

Berlim, junho de 1929.
                                       Franz Xaver Kappus.
   

terça-feira, 7 de setembro de 2010

Cartas A Um Jovem Poeta - Parte II - Prefácio

"Não sei se vai tentar a tarefa quase impossível de falar de Rainer Maria Rilke na brevidade desta apresentação de duas de suas obras, talvez as mais fáceis de traduzir e de explicar, por se comporem, a primeira, da série de dez cartas que redigiu, entre 1903 e 1908 ao jovem poeta Franz Xaver Kappus, e, a segunda, do poema "A Canção de Amor e Morte do Porta-Estandarte Cristóvão Rilke", que, por muito que nos traga de sonho, como tôda a obra do poeta, é, no entanto, das suas páginas  mais objetivas, e construído sôbre a realidade de um documento que lhe serve de prólogo.
Êste prefácio visaria especialmente falar da primeira das traduções, de que se ocupou o Sr. Paulo Rónai, poliglota e erudito já incorporado  às letras brasileiras, e que verteu para nosso idioma com a exatidão possível - considerando-se o que há de intencional na linguagem de Rilke - essas cartas tão ricas de outra substância, além do simples conselho literário. Se alguma vez se sente, na tradução, certa obscuridade, ela é como a do original: por estarem as palavras obedecendo à fidelidade do pensamento, mas que à facilidade da elocução.
Quanto ao conteúdo dessas dez cartas, que tão singularmente deveriam sobreviver como uma espécie de mensagem, solicitada por Kappus, mas útil a tantos destinos, conviria chamar a atenção do leitor para algunas dos seus pontos mais importantes.
Inicialmente, é curioso notar - qualquer que tenha sido o destino de Kappus nas letras - o efeito que sôbre o jovem poeta produziram os primeiros poemas de Rilke, muito jovem também, naquele tempo. Essa é uma das mais autênticas consagrações da poesia, no que ela possui de tradicionalmente mágico, de originalmente divino. O Rilke dessas cartas é como um intermediário de mistérios, uma espécie de oráculo, que se consulta e em quem se crê.
Talvez, na verdade - e isso já vem a seguir - Kappus não lhe tenha inspirado, com seus inscritos, uma veemente esperança. Mas rilke não iria colocalr, à maneira dos críticos, uma nuvem sôbre os seus sonhos de fazer e sentir Poesia.De mil modos delicados, porém, lhe iria indicando as mil condições favoráveis para se aproximar do sonho, para chegar à sua margem, ao menos - uma vez que nem sempre a travessia é permitida. O que entre essas mil indicações diversas ficasse em silêncio, e mais obscuro, palpitando, aí estaria, verdadeiramente, o seu discreto, cálido, religioso conselho. Não ignorava o que é necessitar de alguém aquêle que , pela mesma época, escrevia a Auguste Rodin pedindo-lhe, por sua vez, conselhos sôbre o segrêdo de viver e de criar.
Do exemplo que recebe, do consôlo que para si extrai, pairando em redor do grande escultor como um pássaro em tôrno de uma rocha, vai tecendo essas cartas que são como a sua própria experiência purificada e revelada.
Por isso, as respostas de Rilke não oferecem a Kappus uma receita literária, embora digam coisas essenciais sôbre o exercício da literatura. Vão mais longe: tratam da formação humana, base de tôda criação artística.
De literatura, pròpriamente, pouco falam as cartas. Podem ser resumidos os conselhos do poeta em algumas linhas: escrever só por absoluta necessidade, evitar temas sentimentais e formas comuns, escolher as sugestões oferecidas pelo ambiente, a imaginação e a memória, não dar importância aos críticos, não ler tratados de estilo.
O resto é muito mais importante, uma vez que a parte formal da arte acaba sempre por se realizar, quando atrás dela há uma imposição total de vida transbordante. Por isso, aplica-se a valorizar aos olhos do jovem Kappus, a necessidade de um mundo interior; de uma clarividência; de um gôsto da solidão, constante e inteligente; de uma visão diversa do amor; de uma ternura pela natureza e pelos mínimos aspectos das coisas; de uma paciência interminável; de uma aceitação leal de tôdas as dificuldades; de uma fidelidade à infância; de uma expectativa de Deus; de uma compreensão mas humana da mulher; de uma disciplica poética humilde e vagarosa. Mas sobretudo a solidão assume, nessas cartas, um caráter  de heroísmo e de magnificência, - a ponto de poder dizer que o homem solitário pode preparar muitas coisas futuras porque as suas mãos erram menos.'' 

quinta-feira, 2 de setembro de 2010

Cartas A Um Jovem Poeta - Parte I - Vamos compartilhar arte!

Olá, como vão vocês? Então...O último post foi há aproximadamente duas semanas, o que significa que faz um tempo que não apareço por aqui. Esse tempo me fez pensar muito, inclusive sobre o que conversar com vocês agora. Mas antes, gostaria de esclarecer pontos essenciais, através dos quais, cheguei ao assunto de que começaremos a tratar hoje e que se estenderá por algum tempo. Em primeiro lugar, eu não costumo reproduzir obras de outros autores, prezo pela originalidade de cada um o máximo que posso. Além disso, dependendo da obra, tal reprodução torna-se um tanto penosa e cansativa ao leitor  pois  gera desinteresse, uma vez que este pode não encontrar nada novo aos seus olhos. Por isso, creio que a descoberta de um bom livro, uma boa música,  (resumindo, da arte) é mais prazerosa quando feita a sós, frente a frente e sem nenhuma forma de interferência ou opinião alheia, ponto.
Então o que me convenceu a reproduzir a obra?
Ontem eu estava na sala de aula  lendo um livro chamado "Cartas A Um Jovem Poeta" de Rainer Maria Rilke, cuja  impressão data  de 1966 e foi publicada pela Editora Globo, de Porto Alegre, sob tradução do Sr. Paulo Rónai. Nesse ano, o livro já estava em sua 5ª impressão. A primeira foi publicada em Junho 1953, se não me engano. O exemplar que tenho em minhas mãos agora (de 1966), é composto por dois "livros" : "Cartas A Um Jovem Poeta" (que é o que nos interessa, por hora) e "A Canção de Amor e Morte do Porta-Estandarte Cristóvão Rilke, ambos do mesmo autor. Encontrei-o  na biblioteca da escola, o que foi uma sorte imensa. Enfim... Eu estava lendo e foi quando o meu professor de Literatura entrou na sala, chegou perto de mim, olhou o livro e disse: "Rapaz, isso é bom, muito bom." A partir desse momento, ficamos um tempo conversando sobre isso e, ao final, ele me disse: "Divirta-se!". Voltei, então, a ler o livro e fui interrompido pelo sinal do final da aula. Saí para o intervalo, voltei e continue a ler. Dessa vez, quem entrou na sala, foi o professor de Sociologia. Enquanto ele distribuía os textos que trabalharíamos naquela aula, ele se aproximou de mim, olhou o livro, abriu um sorriso e comentou: "Ser ou não ser poeta? Faça essa pergunta a si mesmo na calada da noite, aceite a resposta que lhe for dada e construa sua vida de acordo com esta necessidade." Pronto, foi o bastante para que eu pudesse perceber que eu deveria, de alguma forma, deixar de ser egoísta e compartilhar essa história com vocês.
Do que se trata, afinal?
Partindo de uma análise muito superficial, o livro é constituído por dez cartas escritas por Rainer Maria Rilke ao jovem Franz Xaver Kappus. Em um primeiro momento, escolhi algumas cartas ou trechos delas para apresentar aqui. Em uma segunda oportunidade, percebi que todas deveriam ser apresentadas, pois trabalham com o que há de mais puro no mundo, a vida. E esta não pode ser recortada e muito menos fragmentada.
Começaremos, então, na próxima postagem (já que essa ganhou mais espaço que eu esperava), pelo prefácio escrito por ninguém mais, ninguém menos que Cecília Meireles.