sexta-feira, 14 de outubro de 2011

Odisséia - Parte II

Existe um lenço que protege
O rosto do pistoleiro da poeira do chão da estrada.
Só lhe restam os olhos.
Fixos, estonteantes,
No horizonte distante.

E por todos os lugares que já esteve,
Por todos os amores que já teve,
Sabe que não deve distinguir a vida e a morte,
É quase um pecado separá-las, distanciá-las;
São um só.

É bem verdade que os olhos nos traem, às vezes.
Manipulam, dissimulam,
Nos fazem acreditar que estamos enxergando,
Quando não vemos nem um palmo à frente!

Mas ele sabe, oh, ele sabe:
É necessário que o nosso olhar tenha a sensibilidade
Do arrepiar de um primeiro toque dos dedos na pele,
Do sussurrar ao ouvido,
Da brisa fresca que sopra ao entardecer.

Ele, que por tanto tempo foi forte só,
Descobriu, finalmente,
Que é melhor ser fraco com alguém ao seu lado.
E o lenço foi ao chão,
Confundir-se com a poeira dos anos.

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